28 janeiro 2008

A guerra santa de António Marinho Pinto

O novo bastonário da Ordem dos Advogados Portugueses é um homem corajoso e generoso. Sabem-no todos os que o conhecem e é da elementar justiça que se reconheça isso publicamente.
Não é - como sugeram alguns - um tonto, por afrontar uma série de interesses e poderes, como afrontou com as declarações prestadas nos últimos dias.
Em declarações ao Correio da Manhã, o bastonário considerou que estão em causa “situações que toda a gente vê”, dando como exemplo os casos de “membros do Governo que fazem negócios com empresas privadas e depois quando saem vão para administradores dessas empresas”.
Prossegue o jornal, citando Marinho Pinto:
“Esbanja-se milhões de euros em pagamentos de serviços cuja utilidade é duvidosa e depois não há dinheiro para necessidades básicas”, acrescentou o advogado, dizendo que não é magistrado nem investigador e que não faz denúncias criminais, apesar de ter sido desafiado pelo ex-bastonário Rogério Alves e por Vitalino Canas, porta-voz do PS.
Marinho Pinto disse não ter provas mas apenas indícios, baseando-se em “situações públicas e notórias”: “Há uma criminalidade em Portugal, da mais nociva para o Estado e para a sociedade, que anda aí impunemente. Muitos exibem os benefícios e os lucros dessa criminalidade e não há formas de lhes tocar. Alguns até ocupam cargos relevantes no Estado Português.”

***
Não sei, francamente, o que pode ganhar Marinho Pinto com este corajoso discurso, para além de dividir a classe dos advogados.
É por demais claro que há advogados que estão contra a corrupção e que há outros que são a favor dela e até a consideram um elemento essencial ao desenvolvimento da sociedade.
Não me parece que seja útil ao país que o bastonário da Ordem dos Advogados ponha, literalmente, em causa o Procurador Geral da República, metendo a foice na sua seara, quando tem tantos problemas para resolver no tocante ao exercício da advocacia.
É por demais óbvio que os negócios que o bastonário denunciou foram assistidos por advogados, cuja prática ninguém questionou...
Preferia que o bastonário da minha Ordem gastasse o seu tempo questionando outros poderes e reclamando outras regras...
Com este espalhafato, ficou reduzido a zero o autêntico escândalo que consiste em um empregado do Parlamento não poder ser advogado, podendo sê-lo um deputado.
Urgente - e indispensável - é que se imponha ao Estado a obrigação de publicar as listas dos advogados que contrata e das condições em que os contrata.
A pouca vergonha passa por ai...
E por isso mesmo eu me recuso a trabalhar para o Estado, para empresas públicas, para autarquias, para tudo o que seja público, porque não quero ficar sob suspeita...

Sem comentários: