O caso Free Port voltou a dominar os noticiários de todo o dia 30 de Janeiro.
Logo de manhã, o Diário de Notícias publicou largos excertos da carta rogatória enviada pelas autoridades inglesas ao Ministério Público português, a qual, lida por um cidadão comum, aponta claramente o primeiro ministro como suspeito de estar envolvido num caso de corrupção.
Ao longo do dia, passaram pelas televisões políticos de todos os quadrantes e advogados que, mais menos em unissono, se revelaram todos contra a violação do segredo de justiça, que permitiu o aparecimento da suspeita na comunicação social e o lançamento de uma autêntica campanha de degradação da imagem de José Sócrates.
Os partidos da oposição mantiveram, todos eles, uma mensagem idêntica: a de que se trata de um assunto da justiça, que a justiça deve resolver.
É por demais óbvio que convém à oposição que o primeiro ministro seja queimado em fumo branco, durante o máximo de tempo possível. Convém-lhe, igualmente, que, tendo sido violado o segredo de justiça se defenda o segredo de justiça; e que, falando do caso, se defenda que sobre ele não se deve falar.
Há realidades que são insofismáveis e que todos parecem ignorar ou iludir.
Uma delas é a de que os jornalistas não podem deixar de noticiar o que é notícia e não devem deixar de investigar todos os factos que são socialmente relevantes.
Nessa matéria é forçosa a conclusão de que a comunicação social portuguesa se tem portado de uma forma madura, tendo sido publicados excelentes trabalhos de investigação (de que relevam os publicados na «Visão» e na «Sábado», que primam pelo esforço de rigor e de objectividade, relativamente aos factos que são o centro da notícia: a pendência de dois processos criminais, em Portugal e na Inglaterra, em que se suscitam suspeitas acerca da postura de José Sócrates.
Forçosa é a consideração de que em jornalismo e em política os conceitos de suspeito têm diferentes conteúdos. Daí resulta a evidência de que um comunicado do Procurador Geral da República ou declarações de responsáveis do Ministério Público afirmando que o primeiro ministro não é suspeito naqueles processos, vistos, necessariamente sob o prisma da linguagem jurídica, não só não têm a mesma leitura na linguagem jornalística e na linguagem política, como podem ter uma leitura contrário ou uma leitura pelo menos diversa.
Fazendo exercícios de bom jornalismo, algumas publicações tiveram o cuidado de explicar aos seus leitores qual o conteúdo do conceito jurídico de suspeita; e, por essa via, acabaram por esvaziar completamente o sentido útil que o comunicado da Procuradoria Geral da República poderia ter para a defesa de José Sócrates.
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